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Injeções anestésicas usadas por Rafael Nadal são um risco, mas não configuram doping

Jogador sofre com a síndrome de Müller-Weiss no pé esquerdo

Jogador sofre com a síndrome de Müller-Weiss no pé esquerdo

AFP

Revelando que recorreu diariamente a injeções anestésicas durante o recente Roland Garros, Rafael Nadal, vencedor do torneio parisiense pela 14ª vez, traz à tona o debate sobre essa prática médica legal, que transita entre ética, regulamentação antidoping e diferenças com outros esportes.

O que diz o regulamento?

“Consegui competir nesta quinzena porque meu médico me deu injeções de anestesia nos nervos para anestesiar meu pé, mas é um risco. Nas condições atuais, não posso e não quero continuar jogando até encontrar uma solução”, explicou Nadal após vencer a final de Roland Garros no domingo. O jogador maiorquino sofre de síndrome de Müller-Weiss no pé esquerdo.

Os produtos anestésicos não são proibidos no Código Mundial Antidoping da Agência Mundial Antidoping (Wada).

Outra forma de lidar com a dor é o uso de corticosteroides, que, ao contrário, estão proibidos durante as competições desde 1º de janeiro.

“O uso de anestésicos é uma prática que certamente se tornou mais frequente a partir deste ano porque é tudo o que pode ser feito para limitar a dor localmente”, disse à AFP o médico François Lhuissier, presidente da Sociedade Francesa de Medicina Esporte (SFMES).

Um atleta pode usar corticosteroides durante uma competição, possivelmente por injeção, se tiver uma Autorização de Uso Terapêutico (AUT).

“Nenhum comitê de TUE daria uma TUE pelo bem de Nadal”, avalia Lhuissier. “A AUT é para quando há um problema de saúde que vai afetá-lo no dia a dia, não apenas na prática esportiva, como asma ou hipertensão”, explica.

O que acontece em outros esportes?

“No futebol, as infiltrações são muito comuns”, assegura à AFP o doutor Jean-Pierre de Mondenard, médico do esporte. “Mas isso não é se importar, você se preocupa com o resultado, mas não com o atleta”, ressalta.

No atletismo, “essas não são práticas comuns, pelo menos na França”, disse à AFP o doutor Antoine Bruneau, médico das seleções nacionais da Federação Francesa desse esporte.

“Seja o uso de anestésico ou o método de injeção, eles não são comuns em momentos de competição. Provavelmente é mais comum em ligas de esportes coletivos, com partidas todo fim de semana”, estima.

“Faz parte do arsenal terapêutico que temos à nossa disposição. Mas anestesiar um nervo de um membro inferior traria problemas no nível do equilíbrio, do controle gestual. Há uma diferença entre as corridas translacionais e os movimentos no tênis e a qualidade do pé que é necessário para um salto ou uma corrida de atletismo, em que é preciso ter todas as sensações”, explica.

É uma prática ética?

Apenas o ciclismo, um esporte regularmente contaminado pelo doping, foi além da AMA ao incluir em seus regulamentos esportivos a proibição de qualquer injeção durante uma competição.

Comprometido com o Movimento pelo Ciclismo Credível (MPCC), o ciclista francês Thibaut Pinot criticou Nadal no Twitter ao se referir aos “heróis de hoje…” de maneira irônica.

“Do ponto de vista ético, a única coisa que me interessa é se [o procedimento] está autorizado ou não”, diz Lhuissier. “A AMA determinou essa questão. Eles têm especialistas em ética. Eu não faria isso por mim, mas se um atleta me pedisse para fazer, na medida em que está autorizado, eu faria”, diz.

Para Bruneau, a nova regulamentação dos corticosteroides “é uma mensagem dirigida ao mundo dos esportes sobre as injeções” e suas agulhas simbólicas.

É um risco para a saúde de Nadal?

“A injeção de anestésicos não terá consequências para sua saúde”, estima Lhuissier. “No entanto, o fato de estar anestesiado faz com que você sinta menos o pé e seus suportes, então o risco de sofrer uma entorse aumenta”, ressalta.

“A dor é um sinal de alarme natural do corpo humano”, lembra Bruneau. “Eu me pergunto se é benéfico anestesiar durante uma competição, privando um atleta de sensação…”, acrescenta.

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